O 37º ENCONTRO DE TEATRO JÁ COMEÇOU
E, na Abertura teve uma sentida e bonita homenagem ao actor Joaquim Vieira.
Deixamos a intervenção do Presidente da Direção.
Caro
Vieira...!
Hoje,
que regressaste a esta tua casa, eu, como grupo de teatro que te viu
nascer, tenho uma palavras para te dizer.
O
Joaquim Afonso Rodrigues Vieira foi um menino que nasceu em 28 de
Março de 1939, em Pedroso, filho do Manel Vieira e da Ana Lourenço.
E que, como acontecia nas casas humildes, começou bem cedo a ganhar
a vida, aos 11 anos já era barbeiro.
O
teatro era a sua paixão e foi na tropa que começou a fazer umas
“teatrices”... a que deu continuidade, no lugar onde vivia, ali
para os lados de Ponte Pereiro.
Joaquim
Vieira é um actor que nasceu em 1966. Viu pela primeira vez a luz do
palco como André Mayo, na peça “Além do Horizonte”, de Eugene
O'Neil, encenada por Manuel Lereno e apresentada pelo Grupo de Teatro
d'Os Plebeus Avintenses no Teatro Almeida e Sousa.
Curiosamente
o Joaquim Afonso Rodrigues Vieira e o Joaquim Vieira são a mesma
pessoa, só que nasceram com uma diferença de 27 anos...
Pois
é...
Ambos
sabemos que quando pisamos um palco e emprestamos a alma à primeira
personagem que interpretamos, voltamos a nascer de novo... E vamos
renascendo sempre que vivemos novas personagens...
Os
nossos caminhos encontraram-se, nesse longínquo ano de 1966 e fomos
percorrendo um caminho conjunto durante 30 anos, ainda que tenham
havido algumas interrupções...
Foi
“Alem do Horizonte” que nos entrecruzamos neste sítio mágico
que é o palco...
E
ficaste tão apaixonado por esta arte de partilha e transfiguração
que nunca mais paraste...
O teu
pai bem te queria músico...
Mas tu
estavas tão enfeitiçado pela magia desta arte, que te permitia dar
vida a personagens e viver outras vidas, que até fugias pela janela
para ires aos ensaios...
Voltamos
a encontrar-nos naquela mentira de que “Os Velhos não devem
namorar”, mentira porque ambos sabemos que o namoro pode ser eterno
se o amor também o for...
Depois
namoraste a filha de Euricão, que guardava o dinheiro na porca,
lembras-te?
Claro
que lembras... ficaste tão fascinado pela figura do onzeneiro do
“Santo e a Porca”, que haverias de ser um inimitável Harpagão,
no “Avarento” de Moliére.
E assim
foste percorrendo o palco, vivendo como tuas as vidas das personagens
que interpretaste...
Tantas
vidas que viveste na tua vida...
Foste
galã e vilão...
Nobre e
homem do povo...
E
também membro do clero...
Foste
general de Atenas
E até
foste rei... (eu sei que foi o Herodes mas é sempre um rei...)
E foste
incendiário... (sim eu sei que incendiaste corações, mas não é a
esses incêndios que me refiro mas sim aos do Biedermann!)
Embarcaste
nas barcas de Gil Vicente e três vezes foste condenado ao inferno...
E
ajudaste a amansar uma fera...
E,
depois da fera amansada, quando outros partiram buscando outras
paragens, tu ficaste...
Ficaste
e, mais que valente, foste um Valentão deste mundo ocidental...
Mas,
depois de viajares até à China, onde foste Mandarim...
Partiste
na busca de outros desafios e outras personagens...
E
participaste em filmes e séries televisivas...
E
representaste personagens “profissionais”...
Tantas
personagens a quem deste vida e tantas histórias de grandeza e
miséria que viveste...
Mas
haverias de voltar, porque esta nossa relação nunca terminou...
E
voltaste em 2010 para participar na peça “Eu Teatro de Mim
Falo”.... encenada pelo nosso amigo saudoso Eduardo Freitas...
Foi o
último espectáculo que aqui representaste.
Nessa
peça o teatro falava si próprio.
Hoje o
teatro fala de ti...
Fala de
ti porque hoje voltaste a esta nossa casa...
As
tábuas deste palco deliciaram-se, por te reencontrar e poderem matar
saudades e as paredes deste teatro estão ansiosas por te ouvir..
Hoje
celebramos 51 anos da nossa relação...
51 anos
em que partilhamos emoções, vivemos grandes êxitos e também
alguns momentos menos bons...
É
assim a vida e o teatro não é mais que a representação da vida.
Celebramos
o teu regresso porque continuas a ser um de nós...
Um
Plebeu...!
E ambos
sabemos que os plebeus continuam a viver dentro de ti...
Tu
sabes Vieira, que a vida é um palco, onde vamos representando dramas
e comédias, com algumas farsas de entremeio...
E eu
desejo que ainda possas continuar a actuar, no palco da vida, durante
muitos anos...
E que
ainda nos possamos reencontrar nestas tábuas sagradas onde
partilhamos sonhos e emoções...
Os
Plebeus Avintenses deixam um caloroso aplauso:
Ao
Actor
Ao
Plebeu
Ao
Joaquim Vieira...!
Vila de
Avintes ao 28º dia do mês de Outubro do ano de 2017
O Presidente da Direcção
José Manuel Araújo
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